terça-feira, 29 de novembro de 2016

DHARMA - KARMA - SAMSARA

Entenda de uma vez por todas a relação entre dharma, karma e samsara
Preso ao samsara, através da lei do karma, encontra-se o homem
Num passado longínquo, sábios (rishis) da Índia compreenderam a maneira mais fácil e perfeita de se conectar com o universo: “agir de acordo com as próprias leis da natureza”.
Dharma é um termo sânscrito, provém da raiz “dhr”, “levar”, “suster”, “portar”, e significa “suporte”, “aquilo que sustém, mantém unido ou elevado”. Dharmah, “religião”, “código de vida”, “modo de bem viver”, “dever ou obrigações”. Dharmam, “doutrinas”.
Dharma é a lei universal da natureza, que se expressa em cada ser e, simultaneamente, em todo o universo, através de sua influência constante e cíclica; a justiça ideal que faz com que as coisas sejam o que elas são, ou o que devam ser. É um dos principais conceitos do Hinduísmo, Budismo e Jainismo. É o princípio da verdade que mantém todas as coisas animadas e inanimadas em harmonia, favorecendo o crescimento e o desenvolvimento espirituais.
Dharma aponta para os fundamentos da lei universal na qual os pensamentos, sentimentos e as ações humanas devem basear-se para obter apoio do universo. Os hindus a chamam de Sanatana Dharma, ou “eterna lei da verdade”, sugerindo que a tradição da lei natural não é limitada pelo tempo, espaço ou pessoa.
Para os budistas, Buddha Dharma é o caminho natural para a iluminação. Uma vida centrada no dharma é o alicerce necessário para se vivenciar a filosofia yogue e a base de todos os tratamentos ayurvédicos. Dharma também é a capacidade de prestar serviço, o que consiste numa das qualidades essenciais dos seres humanos. Portanto, cada pessoa deve conscientizar-se de seu dharma e realizá-lo da melhor forma possível.
Outra maneira de conectar-se com a mente do universo se dá através da prática diária do yoga, do cultivo do silêncio interior, da meditação (dhyana), reconhecendo a verdadeira natureza que jaz em seu próprio ser (quando alguém reconhece a sua própria natureza interior, está praticando yoga); desligando-se dos sentidos (pratyahara) e das coisas mais próximas ao seu redor, aproveitando o tempo para experimentar o silêncio, nele se concentrar, e apenas existir.
Muito antes do físico, matemático e astrônomo inglês Isaac Newton (1642-1727) ter estudado e descrito brilhantemente uma importante lei da física, “Ação e Reação”, os sábios e yogues da antiga Índia já a haviam observado na natureza e, inclusive, preocupavam-se com os frutos das ações humanas e filosofaram profundamente a respeito disso.
A mais importante lei dhármica é o karma (da raiz “kr”, “fazer”, “ação”, “rito”, “execução), significa “ação” ou “atividade”. É a lei da ação e reação, de causa e efeito. Sir Newton descreveu metodologicamente uma lei física, enquanto que esses antigos sábios e yogues foram capazes de descrever filosoficamente algo ainda mais sutil, uma lei que além de física é também espiritual.
Da forma como se age, experimentam-se os frutos das próprias ações, não apenas na vida presente, mas também em vidas futuras. Existe uma infinita justiça no universo que se manifesta através de inúmeras vidas ou encarnações, não apenas instantaneamente. Para os yogues e hindus, nenhum débito fica sem ser pago no universo. Os frutos das ações kármicas podem restringir a consciência (chit), conduzi-la a um estado de aprisionamento, estagnação, ignorância (tamas), miséria, apego e doenças, o que confere intranquilidade à mente (chitta ou manas), sofrimento, e aprisioná-la em conquistas efêmeras.
Pode-se imaginar alguém jogando uma pedrinha na superfície de um lago imóvel, cristalino e sereno, observando as ondulações que ela produzirá, quando atingir a sua superfície; isso reflete a “lei de ação e reação”. Também, quando se busca aquietar a mente e se concentrar, e uma ideia ou pensamento aflige a mente, isso poderá produzir (dependendo da identificação ou não com esse pensamento) inúmeras modificações mentais.
Então, deve-se persistir na concentração até que a mente se torne completamente serena, livre das interferências dos pensamentos. As ações humanas têm um significado além do que se pode ver na superfície. Toda ação produzirá uma energia que retornará ao seu progenitor. Colhem-se os frutos que se plantam. Quando alguém opta e realiza ações que favorecem a natureza, os animais, a justiça, a felicidade e a prosperidade de outras pessoas, essas ações acabam tornando-se parte dessa pessoa e ela, também, torna-se realizada, próspera e feliz.
Ao se relacionar, uma pessoa terá que dar de si mesmo, precisará valorizar e compreender o seu próximo. Todos os dias os seres humanos executam inúmeras ações sutis que acabam influenciando enormemente o que a vida lhes traz. Em termos práticos, deve-se perguntar a si mesmo: “Quais serão as consequências da minha escolha ou atitude?” Dentre uma gama de escolhas, há sempre uma correta, que pode trazer harmonia, felicidade, saúde, liberdade e prosperidade. Como realizar a escolha correta?
No momento em que se faz uma escolha, deve-se prestar bem atenção aos próprios sentimentos. Se ocorrerem dúvidas, desconforto, receios e mal-estar, então, provavelmente, a escolha não é de karma apropriado. O presente e o futuro são arquitetados por escolhas feitas a cada instante da vida. Tudo o que acontece no presente momento é resultado de escolhas que se fez num passado próximo ou distante. Tais escolhas podem trazer consequências evolutivas ou destrutivas.
A lei do karma ressalta que a cada momento existe a possibilidade de se realizarem coisas diferentes e mudar-se favoravelmente o rumo da vida. Deve-se parar um momento e testemunhar as escolhas já feitas e aquelas por se fazerem na vida.
Samsara
Na maioria das tradições filosóficas da Índia, tais como o Hinduísmo, Budismo e Jainismo, o samsara – ciclo mecânico de morte e renascimento – é tido como algo natural. Preso ao samsara, através da lei do karma, encontra-se o homem, cujos frutos de suas ações, sejam eles bons ou maus, devem esgotar seus efeitos através de inúmeras existências.
O homem deve transcender o samsara mediante a “iluminação” de sua consciência. O karma e o samsara podem ser transcendidos ou dissolvidos mediante dois caminhos que conduzem à libertação (moksha): a aquisição de jnâna (conhecimento superior) e a prática de bhakti (devoção, amor). Uma vez que a sabedoria libertadora (vidya) é alcançada através do conhecimento (jnâna), a ideia do ahamkâra (sentido de individualização, ego) e mamata (“ação do eu” ou “isso é meu”) se dissolve; consequentemente, o samsara se extingue, e a natureza divina existente no homem (atman), alcançando a libertação (moksha), funde-se a Brahma (deus criador), à consciência do universo.
Com a dissolução da ilusão de aham (“eu sou”) e mamata (“isso é meu”, apego), atman, finalmente, alcança-se a verdadeira compreensão de que se é também Brahman (o Absoluto) – aham brahmansmi, “eu sou brahman” – e o samsara deixa de existir.
por Gilberto Coutinho

Krishna e Cristo


Vishnu, de acordo com as mais antigas fontes, apareceu sob a forma de homem em 4 000 a.C. à virgem Devanaki (= mulher criada para Deus) que pertencia à casa real. Devanaki caiu em êxtase, ofuscada pelo espírito de Deus, que uniu-se a ela em divino e majestoso esplendor. Devanaki concebeu uma criança. Uma profecia no Atharva-Veda narra o acontecimento da seguinte forma: "Bendita és tu, Devanaki, entre todas as mulheres, e bem-vinda seja entre os sagrados Rishis. Fostes escolhida para a obra da salvação... Ele virá com uma coroa de luz e o céu e a terra se encherão de júbilo... Virgem e mãe, nós te saudamos, como a mãe de todos nós, pois dará a luz ao nosso salvador, a quem darás o nome de Krishna". No Bhagavad-Gita, o rei de Mathura foi avisado, em um pesadelo, de que a filha de sua irmã, Lakshimi, teria um filho que seria mais poderoso que o próprio rei. A virgem Devanaki e seu filho recém-nascido esconderam-se no campo em companhia de alguns pastores, escapando milagrosamente aos soldados a quem o rei havia ordenado matar todos os recém-nascidos do sexo masculino. O Atharva-Veda conta esta mesma história de modo diferente. O rei Kansa de Mathura viu uma estrela cadente e consultou um brâmane sobre seu significado. O sábio homem disse que o mundo havia se tornado cruel, e que Deus se compadecera do homem, dominado pela cobiça e pelo pecado, enviando à terra um salvador. A estrela era Vishnu, encarnado no ventre de sua sobrinha, Devanaki, que, um dia, desagravaria a humanidade de todos os seus crimes, guiando-a por novos caminhos. Enraivecido, o rei ordenou a morte do brâmane e de todos os meninos recém-nascidos. Existem muitas versões sobre a juventude de Vishnu e muitos poemas exaltando suas qualidades e poderes. Assim como o menino Jesus nos evangelhos apócrifos, o menino Krishna realizava todo tipo de milagres. Foi assim que ele conseguiu sobreviver à armadilha que seu tio Kansa lhe preparou. Em uma ocasião, uma serpente esgueirou-se para dentro de seu leito, a fim de estrangulá-lo, mas foi morta pelas próprias mãos do menino (cf. o mito do jovem Hércules). Mais tarde, Krishna venceu a serpente de muitas cabeças, Kalia, e obrigou-a a deixar o rio Yamu-na. Os atos heróicos desse extraordinário menino indiano encheriam volumes inteiros. Com 16 anos, deixou a companhia da mãe para divulgar sua doutrina por toda a índia. Condenava a corrupção do povo e dos príncipes e dizia ter vindo ao mundo para redimir o homem do pecado original, para exorcizar os espíritos imundos e restaurar o reino do bem. Superou tremendas dificuldades, lutou, sozinho, contra exércitos inteiros, realizou toda a sorte de milagres, ressuscitou os mortos, curou leprosos e aleijados, restituiu a visão aos cegos e a audição aos surdos. Rodeou-se, finalmente, de discípulos que cuidaram dele com o maior desvelo e que deveriam continuar sua obra. De toda parte acorria gente para ouvi-lo e admirar seus milagres. Era reverenciado como a um Deus e reconhecido como o verdadeiro redentor, prometido pelos profetas. De tempo em tempo, afastava-se do seu grupo, deixando seus discípulos a sós, para testá-los, e regressava somente nos momentos de dificuldades. O alastramento do movimento desagradou os detentores do poder que, em vão, tentaram reprimi-lo. Krishna, como Cristo, não desejava propagar uma nova religião, mas simplesmente renovar a já existente, libertando-a de seus odiosos abusos e impurezas. Seus ensinamentos, como aqueles de Jesus, apresentavam-se sob a forma de aforismos e parábolas poéticas. Tudo que disse foi registrado no Bhagavad-Gita, que expõe, de maneira clara, a moralidade pura das elevadas concepções de Krishna. Ele exige de seus discípulos o amor ao próximo, a dignidade, o auxílio aos pobres, a prática de boas ações e a fé na infalível misericórdia do Criador. Manda pagar o mal com o bem, amar os inimigos e proíbe a vingança. Ele consola os fracos, condena a tirania e auxilia os desafortunados. Vive na pobreza e dedica-se aos desamparados e oprimidos. Não tem vínculos pessoais e defende a castidade. Como Jesus, Krishna leva uma vida de peregrino mendicante. Krishna também passa por transformações. O filho de Deus se manifesta a Arjuna, um de seus discípulos favoritos, sob muitas formas divinas, dizendo-lhe: "Quem fizer algo por minha causa, quem se devotar inteiramente a mim, quem se libertar do mundo da matéria e do ódio aos seres, virá a mim" (Bhagavad-Gita, décimo-primeiro canto). A lenda de Krishna, provavelmente, constitui a mais remota fonte ligada à figura mística de Jesus. Semelhanças com as lendas de Dionísio (aprox. séc. 7 a.C.) são igualmente surpreendentes. Não foram, porém, somente as grandes culturas da Grécia e de Roma que influenciaram o cristianismo. O antigo Irã, com suas figuras de salvadores e visões escatológicas e apocalípticas, também exerceu uma grande influência sobre a religião cristã. As figuras de maior destaque na religião persa foram Zaratustra e Mitras, homens-deuses que reformularam as rígidas tradições religiosas. Antes de Zaratustra, a concepção religiosa do Irã oriental era praticamente idêntica àquela da antiga índia.

VISHNU

Na religião hindu, Vishnu, também grafado Vixenu e Vixnu (em hindi विष्णु, transl. Vishnu, da raiz sânscrita vishva, "tudo"), é o deus responsável pela manutenção do universo. Juntamente com Xiva (Shiva) e Brama (Brahma), forma a trimúrti, a trindade sagrada do hinduísmo.
Nas duas representações mais comuns de Vishnu, ele aparece flutuando sobre ondas em cima das costas de um deus-serpente chamado Shesh Nag, ou flutuando sobre as ondas com seus quatro braços, cada mão segurando um de seus atributos divinos: uma concha, um disco de energia, um lótus e um cajado.
A concha se chama Pantchdjanya e possui todos os cinco elementos da criação: ar, fogo, água, terra e éter. Quando se assopra nessa concha, pode se ouvir o som que deu origem à todo o universo, o Om.
O disco ou roda de energia de Vishnu se chama Sudarshana e representa o controle dos seis sentimentos, servindo de arma para cortar a cabeça de qualquer demônio.
O lótus de Vishnu se chama Padma. É o símbolo da pureza e representa a verdade por trás da ilusão.
O cajado de Vishnu se chama Kaumodaki e representa a força da qual toda a força física e mental do universo são derivadas.
Segundo o hinduísmo, Vishnu vem ao mundo de diversas formas, chamadas avatares, que podem ser humanas, animais ou uma combinação dos dois. Todos esses avatares aparecem ao mundo, quando um grande mal ameaça a Terra; no total, existem dez avatares de vishnu, dos quais nove já se manifestaram no nosso mundo - sendo Rama e Críxena (Krishna) os mais conhecidos - e outro ainda está por vir. São eles:
Matsya, o Peixe;
Kurma, a Tartaruga;
Varaha, o Javali;
Narasimha, o Homem-Leão;
Vamana, o Anão;
Parashurama, o Homem com o machado;
Rama, o arqueiro;
Críxena (Krishna)
Buda, o Iluminado (Sidarta Gautama)
Kalki, o espadachim montado a cavalo que ainda está por vir.
A esposa de Vishnu é a deusa Lakshimi, deusa da prosperidade e sorte, que o acompanha, encarnado na terra, como esposa de seus avatares.
Seu veículo é Garuda, a águia gigante. Vishnu tem uma forte relação com a água (Nara), tanto que um de seus nomes é Narayana, aquele que flutua sobre as águas. Ele é representado ao lado de uma serpente com muitas cabeças, já mencionada anteriormente. Do seu umbigo, nasce uma flor de Lótus da qual emerge Brama, o deus criador do universo.
Há uma famosa prece hindu denominada Vishnusahastanama-stotra, ou "Os mil nomes de Vishnu". Os nomes derivam dos atributos do deus. Esses são alguns dos principais:
Acyutah (firme, permanente)
Ananta (sem fim, eterno, infinito)
Kesava (de cabelo abundante e belo)
Narayana (o que está sobre a água)
Madhava (relacionado à primavera)
Govinda (chefe dos pastores: um nome de Krishna)
Madhusudanah (aquele que destrói o demônio Madhu)
Trivikrama
Vamana (anão)
Aridhara
Hrsikeshah
Padmanabha (de cujo umbigo brota o lótus que contém Brama)
Damodara (um nome de Krishna)
Gopala (pastor: refere-se a Krishna)
Janardanah
Vāsudeva (filho de Vasudeva: refere-se a Krishna)
Anantasayana
Sriman
Srinivasa

CRISTO CÓSMICO

Cristo não é algo meramente histórico. As pessoas estão acostumadas a pensar em Cristo como um personagem histórico que existiu há dois mil anos. Tal conceito resulta equivocado porque o Cristo não é do tempo. O Cristo é atemporal. O Cristo desenvolve-se de instante em instante, de momento em momento. Ele em si mesmo é o Fogo Sagrado, o Fogo Cósmico Universal. Cristo é o fogo. Por isso, se vê sobre a cruz as quatro letras: INRI, as quais significam: IGNEA NATURA RENOVATUR INTEGRAM, cuja tradução é: O fogo renova incessantemente a natureza.
Se nós esfregamos a cabeça de um palito de fósforo, brota o fogo. Os cientistas dirão que o fogo é o resultado da combustão, porém isso é falso. O fogo que surge de dentro do palito de fósforo está contido no próprio palito, apenas que com a fricção o libertamos de sua prisão e ele aparece. Podemos dizer que o fogo em si mesmo não é o resultado da combustão e sim que a combustão é o resultado do fogo.
Convém entender que a nós o que mais interessa é o fogo do fogo, a chama da chama, a assinatura astral do fogo. A mão que movimenta o palito de fósforo para que dele surja a chama tem fogo, vida, senão não poderia se movimentar. Depois que o fósforo se apaga, a chama segue existindo na quarta vertical. Os cientistas não sabem que coisa é o fogo, utilizam-no, porém o desconhecem. Jorge Antonio Oro é nosso entrevistado.

- CONTINUAÇÃO CAPITULO I (A GÊNESE)


6. Desde que se admite a solicitude de Deus com as suas criaturas, por que não se admitiria que espíritos capazes, por sua energia e superioridade de seus conhecimentos, de fazerem a humanidade avançar, encarnem pela vontade de Deus,
com o fim de estimularem o progresso em um determinado sentido? Por que não se admitiria que eles recebam uma missão, como a que um embaixador recebe do seu governante? Este é o papel dos grandes gênios. O que eles vêm fazer, senão ensinar aos homens as verdades que esses ignoram — e ainda ignorariam por muito tempo — a fi m de lhes dar um ponto de apoio com a ajuda do qual eles poderão elevar-se mais rapidamente? Esses homens geniais, que aparecem através dos
séculos como estrelas brilhantes, deixando longo rastro luminoso sobre a humanidade, são missionários, ou, se quiserem, messias. Se eles não ensinassem aos homens nada além do que estes sabem, sua presença seria completamente inútil; as coisas novas que eles lhes ensinam, seja na esfera física, seja na filosófica, são revelações.Se Deus permite a vinda de reveladores para as verdades científicas, pode, com mais forte razão, fazer com que apareçam para as verdades morais, que constituem
elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos cujas idéias atravessaram os séculos. 

7. No sentido específico da fé religiosa, diz-se revelação, mais particularmente, das coisas espirituais que o homem não pode saber por ele mesmo, que não pode descobrir por intermédio de seus sentidos, e cujo conhecimento é dado por Deus ou pelos seus mensageiros, através da palavra direta, ou pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens privilegiados, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados, missionários, tendo a missão de transmiti-la aos homens. Considerada sob este ponto de vista, a revelação pressupõe a passividade absoluta; aceita-se sem verificação, sem exame e sem discussão.
8. Todas as religiões tiveram seus reveladores que, embora estivessem longe de conhecer toda a verdade, tinham sua razão de ser providencial, porque estavam adequados ao tempo e ao meio em que viviam, às peculiaridades dos povos aos quais falavam e aos quais eram relativamente superiores.
Apesar dos erros das suas doutrinas, eles não deixaram de comover os espíritos e, por isso mesmo, de semear as sementes do progresso, que mais tarde deviam se desenvolver, ou que se desenvolverão um dia à luz brilhante do Cristianismo.
É, pois, injusto que eles sejam amaldiçoados em nome da ortodoxia, porque dia virá em que todas essas crenças, tão diversas na forma, mas que repousam realmente sobre um mesmo princípio fundamental — Deus e a imortalidade da alma
— se fundirão numa grande e vasta unidade, assim que a razão houver triunfado sobre os preconceitos.
Infelizmente, as religiões têm sido, em todos os tempos, instrumentos de dominação.
O papel de profeta suscitou as ambições secundárias, e tem-se visto surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias que, valendo-se do prestígio desse nome, exploram a credulidade em proveito do seu orgulho, da sua cobiça ou da sua preguiça, achando mais cômodo viver à custa dos iludidos. A religião cristã
não pôde ficar livre desses parasitas. A esse respeito pedimos uma séria atenção para o capítulo XXI de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Haverá falsos cristos e falsos profetas.”
9. Há revelações diretas de Deus aos homens? Essa é uma questão que não ousaríamos responder nem afirmativa nem negativamente de uma forma absoluta.
O fato não é radicalmente impossível, porém, nada nos dá a certeza dele. Do que não se pode duvidar é que os espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados,
segundo a ordem hierárquica a que pertencem e ao grau de seu saber pessoal, podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram,ou recebê-las de espíritos mais elevados, até mesmo dos mensageiros diretos de Deus. Esses, falando em nome de Deus, foram, às vezes, confundidos com o próprio Deus.As comunicações desse gênero não têm nada de estranho para quem conhece os fenômenos espíritas e o modo pelo qual se estabelecem as relações entre encarnados e desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela inspiração pura e simples, pela audição da palavra, pela visibilidade dos espíritos instrutores nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, como se vê em muitos exemplos na Bíblia, no Evangelho e nos livros
sagrados de todos os povos.
Assim sendo, é rigorosamente exato dizer que a maior parte dos reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes, de onde não se conclui que todos os médiuns sejam reveladores ou, ainda menos, os intermediários diretos da Divindade
ou dos seus mensageiros. - continua -

Capítulo I ( A GÊNESE)


Fundamentos da Revelação Espírita
1. Podemos considerar o Espiritismo como uma revelação? Nesse caso, qual seria o seu caráter? Em que se baseia a sua autenticidade? A quem e de que maneira ela foi feita? A Doutrina Espírita é uma revelação, no sentido litúrgico da palavra, quer dizer, ela é, em todos os pontos, o resultado de um ensino oculto vindo do Alto? É absoluta ou passível de modificações? Trazendo aos homens toda a verdade, a revelação não teria o efeito de impedi-los do uso das suas faculdades, uma vez que lhes pouparia o trabalho da pesquisa? Qual pode ser a autoridade do
ensino dos espíritos, se eles não são infalíveis e superiores à humanidade? Qual é a utilidade da moral que pregam, se essa moral não é outra senão a do Cristo, que já se conhece? Quais são as novas verdades que eles nos trazem? O homem tem necessidade de uma revelação e não pode encontrar em si mesmo e em sua consciência tudo o que é indispensável para conduzir-se na vida? Essas são as questões sobre as quais devemos nos deter.
2. Vamos definir inicialmente o sentido da palavra revelação.
Revelar:* cuja raiz é velum, véu, significa literalmente “levantar o véu” e, figuradamente, descobrir, tornar conhecida alguma coisa secreta ou desconhecida.
Essa palavra é normalmente empregada em relação a qualquer coisa ignorada que é divulgada, a qualquer ideia nova que nos põe a par do que não sabíamos.
Desse ponto de vista, todas as ciências que nos permitem conhecer as leis da natureza são revelações, podendo-se assim dizer que há, para nós, uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia, a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo, etc. Copérnico, Galileu,Newton, Laplace e Lavoisier, entre outros, foram reveladores.
3. O caráter essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, conseqüentemente, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos, não é revelação; se ela for atribuída a Deus, não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele, é preciso considerá-la como o resultado de uma concepção humana.
4. Qual o papel do professor diante dos seus alunos, senão o de um revelador?
O professor ensina o que eles não sabem, o que não teriam tempo nem possibilidade de descobrir por si mesmos, porque a Ciência é obra coletiva dos séculos e de uma multidão de homens que trazem, cada um, a sua cota de observações da qual se aproveitam os que vêm depois deles. O ensino é, portanto, a revelação de certas verdades científicas ou morais, físicas ou metafísicas, feita por homens que as conhecem a outros que as ignoram, e que, sem isso, as teriam ignorado sempre.
5. O professor, porém, ensina apenas o que aprendeu: é um revelador de segunda ordem; o gênio ensina o que descobriu por si mesmo: é o revelador primitivo.Traz a luz que, pouco a pouco, se propaga. Que seria da humanidade sem a revelação dos gênios que aparecem de tempos em tempos?
Mas quem são esses gênios? Por que são gênios? De onde eles vêm? O que é feito deles? Observemos que, na sua maioria, trazem, ao nascer, faculdades transcendentes e conhecimentos inatos, que desenvolvem com pouco esforço.
Pertencem realmente à humanidade, pois nascem, vivem e morrem como nós.
Portanto, onde adquiriram esses conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? Pode-se dizer, como os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade e de melhor qualidade? Nesse caso, não teriam mais mérito que um legume maior e mais saboroso do que outro.
Pode-se dizer, como certos espiritualistas, que Deus lhes deu uma alma mais favorecida que a do comum dos homens? Esta suposição é igualmente ilógica, uma vez que acusaria Deus de parcialidade. A única solução racional desse problema está na preexistência da alma e na pluralidade das existências. O gênio é um espírito que viveu mais tempo e que, por conseguinte, adquiriu maiores conhecimentos e progrediu mais do que os que estão menos adiantados. Encarnando, traz o que sabe, e como sabe muito mais do que os outros, sem ter necessidade de aprender, é chamado de gênio. Mas o seu saber é o fruto de um trabalho anterior e não o resultado de um privilégio. Antes de renascer, portanto, era um espírito adiantado; ele reencarna, seja para fazer com que os outros aproveitem o que sabe, seja para alcançar mais conhecimentos.
Os homens, sem sombra de dúvida, progridem por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas, entregues às suas próprias forças, esse progresso é muito lento, se não forem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é por seus professores. Todos os povos tiveram seus homens geniais, que surgiram em diversas épocas, para dar-lhes impulso e tirá-los da inércia. - continua -

INTRODUÇÃO - A GÊNESE


Esta nova obra é mais um passo adiante nas conseqüências e aplicações do Espiritismo. Como seu título indica, ela tem por objetivo o estudo de três pontos diferentemente interpretados e comentados até o presente: a Gênese, os milagres e as predições, nas suas relações com as novas leis que emanam da observação dos fenômenos espíritas.
Dois elementos ou, se quiserem, duas forças regem o Universo: o elemento espiritual e o elemento material. Da ação simultânea desses dois princípios nascem os fenômenos especiais que são naturalmente inexplicáveis, se não considerarmos um dos dois, exatamente como a formação da água seria inexplicável se deixássemos de levar em conta um de seus dois elementos constituintes: o oxigênio e o hidrogênio.
O Espiritismo, demonstrando a existência do mundo espiritual e suas relações com o mundo material, dá a solução de uma infinidade de fenômenos incompreendidos e considerados, por isso mesmo, como inadmissíveis por uma certa classe de pensadores. Esses fatos existem em grande quantidade nas Escrituras, e é pelo desconhecimento da lei que os rege que os comentadores dos dois campos opostos, girando incessantemente no mesmo círculo de ideias, uns desconsiderando os dados positivos da Ciência, outros, os do princípio espiritual, não puderam chegar a uma solução racional.
Essa solução está na ação recíproca do espírito e da matéria. Ela retira, é verdade, da maioria desses fatos, a característica sobrenatural; porém, o que vale mais: admiti-los como resultantes das leis da natureza ou rejeitá-los completamente?
Sua rejeição absoluta leva consigo a própria base da instituição, enquanto que a sua admissão nesse título, não suprimindo mais que os acessórios, deixa essa base intacta. Eis por que o Espiritismo conduz tantas pessoas para a crença de verdades que, até pouco tempo atrás, consideravam como utopias.
Portanto, esta obra é, como dissemos, um complemento das aplicações do Espiritismo, sob um ponto de vista especial. Sua documentação estava pronta, ou pelo menos elaborada, há muito tempo, mas o momento de publicá-la ainda não havia chegado. Era preciso, inicialmente, que as idéias que deviam constituir a sua base chegassem à maturidade, e, além disso, levar em consideração a oportunidade das circunstâncias. O Espiritismo não tem nem mistérios nem teorias secretas; nele tudo deve ser dito às claras, a fim de que cada um possa julgá-lo com conhecimento de causa, mas cada coisa deve vir a seu tempo, para vir seguramente. Uma solução dada precipitadamente, antes da elucidação completa da questão, seria uma causa mais de atraso que de adiantamento. A importância da causa, na questão que aqui se trata, nos impunha o dever de evitar toda precipitação.
Pareceu-nos necessário, antes de entrar no assunto, definir claramente o papel respectivo dos espíritos e dos homens na edificação da nossa Doutrina. Essas considerações preliminares, que afastam dela toda ideia de misticismo, constituem o objetivo do primeiro capítulo, intitulado Fundamentos da Revelação Espírita; pedimos uma atenção rigorosa para esse ponto, porque é aí que se encontra, de algum modo, o nó da questão.
Não obstante a parte que toca à atividade humana na elaboração dessa Doutrina, a sua iniciativa pertence aos espíritos, ela, porém, não é formada da opinião pessoal de cada um deles; ela não é, e nem pode ser, mais que o resultado do seu ensino coletivo e concordante. Somente nessa condição, ela pode se dizer a Doutrina dos Espíritos, de outra forma seria apenas a doutrina de um espírito, e só teria o valor de uma opinião pessoal.
Generalidade e concordância no ensino, tal é a característica essencial da Doutrina, a própria condição de sua existência; daí resulta que todo princípio que não recebeu a consagração do controle e da generalidade não pode ser considerado como parte integrante dessa mesma Doutrina, mas como uma simples opinião isolada, da qual o Espiritismo não pode assumir a responsabilidade.
É essa coletividade concordante da opinião dos espíritos, passada, além disso, pelo critério da lógica, que faz a força da Doutrina Espírita e lhe assegura a perpetuidade.
Para que ela mudasse, seria preciso que a universalidade dos espíritos mudasse de opinião, e que viessem um dia dizer o contrário do que disseram. Visto que a Doutrina tem a sua fonte no ensino dos espíritos, para que ela desaparecesse, seria necessário que os espíritos deixassem de existir. É isso também que a fará sempre prevalecer sobre as teorias pessoais que não têm, conforme ela, suas raízes em toda a parte.
O Livro dos Espíritos só viu seu crédito se consolidar porque é a expressão de um pensamento coletivo, geral. No mês de abril de 1867, viu-se completar seu primeiro decênio; nesse intervalo, os princípios fundamentais dos quais se formaram suas bases foram sucessivamente acabados e desenvolvidos, em conseqüência do ensino progressivo dos espíritos, mas nenhum recebeu um desmentido da experiência, todos, sem exceção, ficaram de pé, mais fortes do que nunca, enquanto que, de todas as idéias contraditórias que tentaram lhe opor, nenhuma prevaleceu, precisamente porque, de todas as partes, o contrário era ensinado. Este é um resultado característico que podemos proclamar sem vaidade, visto que dele nunca nos atribuímos o mérito.
Os mesmos escrúpulos presidiram a redação das nossas outras obras, nós pudemos, verdadeiramente, denominá-las segundo o Espiritismo, porque estávamos certos da sua conformidade com o ensino geral dos espíritos. O mesmo ocorre com esta, que podemos, por razões idênticas, dar como complemento das precedentes, com exceção, todavia, de algumas teorias ainda hipotéticas, que tivemos o cuidado de indicar como tais, e que devem ser consideradas como opiniões pessoais, até que tenham sido confirmadas ou contestadas, a fim de não fazer pesar a responsabilidade delas sobre a Doutrina.
Não obstante, os leitores assíduos da Revista * puderam ali observar, na forma de esboço, a maioria das idéias que estão desenvolvidas nesta última obra, como fizemos com as precedentes. A Revista é, freqüentemente, para nós, um campo de experiência destinado a sondar a opinião dos homens e dos espíritos sobre certos princípios, antes de admiti-los como partes constituintes da Doutrina. Allan Kardec ( A Gênese)