domingo, 30 de outubro de 2016

A Reencarnação no Novo Testamento


Em diversas passagens do Novo Testamento encontramos claras
referencias à reencarnação. Essas passagens, porém, são raramente comentadas e, de um modo geral, mal interpretadas. A crença na reencarnação constituía um dos dogmas das comunidades cristãs primitivas, mas depois foi considerada herética e banida da teologia cristã no Segundo Concílio de Constantinopla em 553 d.C. O Antigo Testamento
traz trechos que evidenciam a fé na metempsicose. Friedrich Weinreb cita, no livro de Jonas, um exemplo de reencarnação punitiva, sob forma animal, e a reencarnação de Nimrod. Weinreb explica o conceito judeu da alma divina "Neshamá" como sendo o espírito divino que existe, igualmente perfeito, em todos os homens e do qual emerge, de tempo em
tempo, um ou outro traço característico'.
A famosa enciclopédia alemã Konversations lexikon, de Meyer, *
datada de 1907, continha a seguinte passagem sobre o tema "A
Reencarnação no Talmud Judeu": "Os judeus, no tempo de Cristo,
acreditavam na transmigração da alma. Os talmudistas pensavam que Deus havia criado um número limitado de almas judias, que renasceriam enquanto houvesse judeus, com ocasionais reencarnações punitivas, sob a forma animal. Todas apresentar-se-iam purificadas no dia da ressurreição e viveriam no corpo dos justos na terra prometida". (Vol. 18, pág. 263).
De fato, o Antigo Testamento termina com a profecia da reencarnação de Elias (como tinha sido pressagiado por volta de 870 a.C): "Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o Dia do Senhor, grande e terrível" (Malaquias, 3,23).
Alguns séculos mais tarde, um mensageiro anuncia a Zacarias o
nascimento de um filho: "Disse-lhe porém o anjo: 'Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração; e Isabel, tua mulher, vai te dar um filho, a quem porás o nome de João. Terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. Pois ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho nem bebida embriagante; desde o ventre de sua mãe, ficará pleno do
Espírito Santo e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Ele caminhará à sua frente com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto' ". (Lucas 1,13-17).
Jesus, mais tarde, respondeu expressamente aos discípulos que
perguntavam se João Batista era Elias: "Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não surgiu nenhum maior que João Batista, e no entanto o menor no reino dos céus é maior do que ele. Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus sofre violência, e violentos se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias, que deve vir" (Mateus 11,10-14).
Nunca soubemos em que lugar João Batista passou sua juventude. Só contamos com a ligeira referência do evangelho de São Lucas: "O menino crescia e se fortalecia em espírito e vivia nos desertos, até o dia em que se manifestou a Israel" (Lucas, 1,80).
E possível que João tenha sido reconhecido como a encarnação de um espírito altamente evoluído e que, portanto, tenha sido educado na India.
Se é este o caso, a frase "preparando o caminho do Senhor" poderia ter uma outra interpretação além daquela figurativa.
Em outra passagem do Novo Testamento, Jesus perguntou a seus discípulos: " 'Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?' E eles responderam: 'Uns afirmam que é João Batista, outros que é Elias, outros, ainda, que é Jeremias ou um dos profetas!' Então lhes perguntou: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' Simão Pedro, respondendo, disse: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo' " (Mateus 16,13-16). E os discípulos lhe perguntaram, dizendo: " 'Por que razão os escribas dizem que é preciso que Elias venha primeiro?' E Jesus, respondendo, disse: 'Certamente terá de vir para restaurar tudo. Eu vos digo, porém, que Elias já veio, mas não o reconheceram. Ao contrário, fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do homem irá sofrer da parte deles' " (Mateus 17,10-13).
Então, de acordo com o evangelho, o próprio Jesus confirmou que a alma de Elias reencarnara em João. Elias tentara fazer do monoteísmo a religião oficial e ensinou que Deus não se manifesta sob a forma de violência e destruição, mas como um "suave murmúrio", no labor silencioso, na indulgência. Elias era um típico monge peregrino, coberto de farrapos, alimentando-se milagrosamente e fazendo milagres, como a multiplicação da comida e a ressurreição dos mortos. Tinha autorização para ungir outros, como um enviado, e atraiu um grande número de adeptos.
Finalmente desapareceu de uma forma misteriosa (ascensão) e, durante três dias, foi procurado em vão por cinqüenta homens.
Os seguidores de Jesus sabiam que ele era uma encarnação, mas incertos sobre quem teria sido na vida anterior, começaram a refletir. Jesus nunca os esclareceu diretamente sobre isso, mas confirmou o ponto de vista de seus discípulos, encorajando-os em sua busca: "Quem dizeis que eu sou?"
No trecho em que Jesus cura o cego de nascença, os discípulos perguntam: "Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?" A ideia de que alguém pudesse ter nascido cego por causa de um pecado anterior só poderia partir da premissa de uma vida anterior e de um subseqüente renascimento. A questão também sugere, implicitamente, o sublime conceito de Carma, pelo qual os atos da vida anterior de uma pessoa determinam seu novo destino.
No terceiro capítulo do evangelho de São João, surge, clara, a noção da reencarnação. Quando Jesus encontrou o chefe judeu chamado Nicodemos, dirigiu-lhe as seguintes palavras: "Em verdade, em verdade, te digo, quem não renascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus".
Nicodemos, que nada sabia sobre o renascimento, pergunta-lhe atônito:
"Como pode um homem nascer, sendo já velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?" Jesus respondeu: "Em verdade, em verdade, te digo, quem não renascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus" (João 3,3-5). Esta resposta sugere, naturalmente, o nascimento final na vida espiritual pura, após muitas passagens terrenas.
Em 1900, o americano James Morgan Pryse fez uma lista dos trechos do Novo Testamento, em que se encontra implícita a doutrina da reencarnação. De acordo com Pryse, os ensinamentos de Jesus reafirmavam a sabedoria dos antigos filósofos e os princípios fundamentais do mundo antigo.
O reconhecimento de que o princípio espiritual da vida humana e o princípio espiritual do universo (microcosmo e macrocosmo) são essencialmente os mesmos, significa que todos os elementos, forças e processos são inerentes no homem, tanto num sentido material como divino. Esta compreensão do mundo implica a harmonia espiritual de todos os seres e a unidade absoluta entre a Natureza e Deus. Enfatiza a presença contínua de Deus no tempo e no espaço em cada partícula do universo. Em seu aspecto físico, o homem é uma manifestação do espaço indiferenciado, ilimitado e eterno, da Unidade divina que se materializou através das idades, em todas as várias formas de vida. O primeiro e verdadeiro Ser é, foi e será perpetuamente imutável. Em contraposição, a natureza e o universo estão em contínua transformação — em estado de devir.
Assim, a alma ou espírito do homem é imperecível, estando sujeito à seqüência de causa e efeito, em suas contínuas encarnações. Para se libertar do ciclo dos renascimentos e, finalmente, retornar à condição divina, o homem precisa ter consciência desse fato e transcender o campo material em que atua. Após uma série de reencarnações, o Carma da existência terrena é superado e, em estado de pureza absoluta, o ser intrínseco e espiritual se funde na Unidade eterna. E esta, em síntese, a doutrina original da reencarnação.
E possível transcender os estreitos limites da existência física ainda na
terra, e compreender a própria natureza divina através do estudo, da percepção, da profunda meditação, da disciplina e da renúncia.
A forma de atingir esse objetivo vem exposta no evangelho de Mateus:
"Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito" (Mateus 5,48). Porém, o caminho da perfeição é feito de muitas reencarnações, através das quais o homem evolui, até, finalmente, despertar para a Verdade do Filho de Deus e viver como Jesus viveu. "Crede-me: eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede-o, ao menos, por causa dessas obras. Em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará até
maiores do que elas..." (João 14,11-12).

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