terça-feira, 29 de novembro de 2016

Capítulo I ( A GÊNESE)


Fundamentos da Revelação Espírita
1. Podemos considerar o Espiritismo como uma revelação? Nesse caso, qual seria o seu caráter? Em que se baseia a sua autenticidade? A quem e de que maneira ela foi feita? A Doutrina Espírita é uma revelação, no sentido litúrgico da palavra, quer dizer, ela é, em todos os pontos, o resultado de um ensino oculto vindo do Alto? É absoluta ou passível de modificações? Trazendo aos homens toda a verdade, a revelação não teria o efeito de impedi-los do uso das suas faculdades, uma vez que lhes pouparia o trabalho da pesquisa? Qual pode ser a autoridade do
ensino dos espíritos, se eles não são infalíveis e superiores à humanidade? Qual é a utilidade da moral que pregam, se essa moral não é outra senão a do Cristo, que já se conhece? Quais são as novas verdades que eles nos trazem? O homem tem necessidade de uma revelação e não pode encontrar em si mesmo e em sua consciência tudo o que é indispensável para conduzir-se na vida? Essas são as questões sobre as quais devemos nos deter.
2. Vamos definir inicialmente o sentido da palavra revelação.
Revelar:* cuja raiz é velum, véu, significa literalmente “levantar o véu” e, figuradamente, descobrir, tornar conhecida alguma coisa secreta ou desconhecida.
Essa palavra é normalmente empregada em relação a qualquer coisa ignorada que é divulgada, a qualquer ideia nova que nos põe a par do que não sabíamos.
Desse ponto de vista, todas as ciências que nos permitem conhecer as leis da natureza são revelações, podendo-se assim dizer que há, para nós, uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia, a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo, etc. Copérnico, Galileu,Newton, Laplace e Lavoisier, entre outros, foram reveladores.
3. O caráter essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, conseqüentemente, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos, não é revelação; se ela for atribuída a Deus, não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele, é preciso considerá-la como o resultado de uma concepção humana.
4. Qual o papel do professor diante dos seus alunos, senão o de um revelador?
O professor ensina o que eles não sabem, o que não teriam tempo nem possibilidade de descobrir por si mesmos, porque a Ciência é obra coletiva dos séculos e de uma multidão de homens que trazem, cada um, a sua cota de observações da qual se aproveitam os que vêm depois deles. O ensino é, portanto, a revelação de certas verdades científicas ou morais, físicas ou metafísicas, feita por homens que as conhecem a outros que as ignoram, e que, sem isso, as teriam ignorado sempre.
5. O professor, porém, ensina apenas o que aprendeu: é um revelador de segunda ordem; o gênio ensina o que descobriu por si mesmo: é o revelador primitivo.Traz a luz que, pouco a pouco, se propaga. Que seria da humanidade sem a revelação dos gênios que aparecem de tempos em tempos?
Mas quem são esses gênios? Por que são gênios? De onde eles vêm? O que é feito deles? Observemos que, na sua maioria, trazem, ao nascer, faculdades transcendentes e conhecimentos inatos, que desenvolvem com pouco esforço.
Pertencem realmente à humanidade, pois nascem, vivem e morrem como nós.
Portanto, onde adquiriram esses conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? Pode-se dizer, como os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade e de melhor qualidade? Nesse caso, não teriam mais mérito que um legume maior e mais saboroso do que outro.
Pode-se dizer, como certos espiritualistas, que Deus lhes deu uma alma mais favorecida que a do comum dos homens? Esta suposição é igualmente ilógica, uma vez que acusaria Deus de parcialidade. A única solução racional desse problema está na preexistência da alma e na pluralidade das existências. O gênio é um espírito que viveu mais tempo e que, por conseguinte, adquiriu maiores conhecimentos e progrediu mais do que os que estão menos adiantados. Encarnando, traz o que sabe, e como sabe muito mais do que os outros, sem ter necessidade de aprender, é chamado de gênio. Mas o seu saber é o fruto de um trabalho anterior e não o resultado de um privilégio. Antes de renascer, portanto, era um espírito adiantado; ele reencarna, seja para fazer com que os outros aproveitem o que sabe, seja para alcançar mais conhecimentos.
Os homens, sem sombra de dúvida, progridem por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas, entregues às suas próprias forças, esse progresso é muito lento, se não forem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é por seus professores. Todos os povos tiveram seus homens geniais, que surgiram em diversas épocas, para dar-lhes impulso e tirá-los da inércia. - continua -

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