segunda-feira, 14 de junho de 2010

SOMBRA

Quando o inconsciente a princípio se manifesta de forma ou negativa ou positiva, depois de algum tempo surge a necessidade de readaptar de uma melhor forma a atitude consciente dos fatores inconscientes – aceitando o que parece ser uma “crítica” do inconsciente.
Através dos sonhos passamos a conhecer aspectos de nossa personalidade que, por várias razões, havíamos preferido não olhar muito de perto. É o que Jung chamou “realização da sombra” para esta parte inconsciente da personalidade porque, realmente, ela quase sempre aparece nos sonhos sob uma forma personificada.

A sombra não é o todo da personalidade inconsciente: representa qualidade e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego – aspectos aqui pertencem sobretudo à esfera pessoal e que poderiam também ser conscientes. Sob certos ângulos a sombra pode igualmente, consistir de fatores coletivos que brotam de uma fonte situada fora da vida pessoal do indivíduo.

Quando uma pessoa tenta ver a sua sombra ela fica consciente (e muitas vezes envergonhada) das tendências e impulsos que nega existirem em si mesmo, mas que consegue perfeitamente ver nos outros coisas como o egoísmo, a preguiça mental, a negligência, as fantasias irreais, as intrigas e as tramas, a indiferença e a covardia, o amor excessivo ao dinheiro e aos bens – em resumo, todos aqueles pequenos pecados que já se terá confessado dizendo: “não tem importância; ninguém vai perceber e, de qualquer modo, as outras pessoas também são assim.”

Se você se enche de raiva quando um amigo lhe aponta uma falta pode estar certo que aí se encontra uma parte da sua sombra, da qual você não tem consciência. É natural que nos sintamos aborrecidos quando gente que “não é melhor” do que nós vem nos criticar por faltas devidas à sombra. Mas que dizer quando é o próprio sonho o juiz interior do próprio ser – que nos reprova?

É o momento em que o ego fica encurralado e reduzido, em geral, a um silêncio embaraçador. Começa depois, um lento e doloroso processo de auto-educação, tarefa que, pode-se dizer, equivale psicologicamente aos trabalhos físicos de Hércules. A primeira tarefa deste infortunado herói, lembremo-nos, foi limpar em um só dia os estábulos de augias, onde centenas de cabeças de gado haviam deixado, durante décadas, o seu esterco – uma tarefa tão imensa que deixaria o mortal comum desencorajado só de pensar nela.

A sombra não consiste apenas de omissões. Apresenta-se muitas vezes como um ato impulsivo ou inadvertido. Antes de se ter tempo para pensar, explode a observação maldosa, comete-se a má ação, a decisão errada é tomada, e confrontamo-nos com uma situação que não tencionávamos criar conscientemente. Além disso, a sombra expõe-se muito mais do que personalidade consciente, a contágios coletivos. Particularmente, quando estamos em contato com pessoas do mesmo sexo é que tropeçamos tanto na nossa sombra quanto na delas. Apesar de percebermos a sombra do sexo oposto, ela nos incomoda menos e desculpamo-la mais facilmente. Nos sonhos e nos mitos, portanto, a sombra aparece como uma pessoa do mesmo sexo que o sonhador.

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