sábado, 12 de março de 2011

O QUE É A CORAGEM?

A coragem de que falamos não é o oposto do desespero. Muitas vezes teremos de enfrentar o desespero, como tem acontecido a todas as pessoas sensíveis nas últimas décadas. Por isso Kierkegaard e Nietzsche, Camus e Sartre afirmam que a coragem não é a ausência do desespeto, mas a capacidade de seguir em frente, apesar do desespero.
A coragem também não é teimosia – sem dúvida teremos de criar com outras pessoas. Contudo, se não expressarmos nossas idéias originais, estaremos traindo a nós mesmos e a comunidade, por não contribuir para o todo.
A principal característica dessa coragem é originar-se no centro, no interior de nosso eu, pois do contrário nos sentiremos vazios. O “vazio” interior corresponde à apatia exterior; com o correr do tempo, a apatia se transforma em covardia. Portanto, o compromisso em que nos engajamos só é autêntico quando originado no centro do nosso ser. Além disso, a coragem não deve ser confundida como temeridade. O que parece coragem pode ser apenas bravata, para disfarçar o medo inconsciente e provar o machismo, como acontecia com os pilotos “temerários” da Segunda Guerra Mundial. O objetivo último dessa temeridade é ser morto ou, dependendo do caso, ser espancado pela polícia – nenhum deles um modo eficaz de demonstrar coragem.
A coragem não é uma virtude nem um valor entre os valores do indivíduo, como o amor ou a fidelidade. É o alicerce que suporta e torna reais todas as outras virtudes e valores. Se, ela, o amor empalidece e se transforma em dependência. Sem a coragem, a fidelidade é mero conformismo.
A coragem é necessária para que o homem possa ser e vir a ser. Para que o eu seja é preciso afirmá-lo e comprometer-se. Essa é a diferença entre os seres humanos e o resto da natureza. A bolota transforma-se em carvalho por crescimento automático; nenhum compromisso consciente é necessário. O filhote transforma-se em gato pelo instinto. Nessas criaturas, natureza e ser são idênticos. Mas um homem ou uma mulher tornam-se humanos por vontade própria e por seu compromisso com essa escolha. Os seres humanos conseguem valor e dignidade pelas múltiplas decisões que tomam diariamente. Essas decisões exigem coragem. Por isso, Paul Tillich diz que a coragem é ontológica – é essencial ao nosso ser.

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