sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

FISICA COMO MODELO

A física, com a qual Jung não estava tecnicamente familiarizado em qualquer grande detalhe mas que predominava no ambiente à sua volta na Zurique do começo do século XX, forneceu um modelo para pensar sobre a energia psiquica. Para Jung, era uma metáfora que oferecia possibilidades para a formação de um conjunto similar de entendimentos no referente à energia psíquica. A física tinha construído uma elaborada teoria de energia, com leis de causalidade, entropia, conservação de energia, transformação, etc.   Atento a essas leis da física e esquecendo fórmulas e equações matemáticas, Jung dispôs-se a conceituar a psique de um modo que lembra algo de seus trabalhos anteriores em psicoterapia experimental com o Experimento de Associação Verbal. Jung sublinha que, quando lidamos com energia, somos levados à quantificação.

 

A energia é uma abstração do mundo objetivo. Não a podemos ver, tocar ou provar. Falar de energia é estar interessado mais na relação entre objetos do que nos próprios objetos.  A gravidade, por exemplo, descreve o modo como um objeto afeta um outro mas nada diz, especificamente, sobre a qualidade dos objetos em questão. Do mesmo modo, argumenta Jung, uma teoria da energia psíquica, ou libido, deve explicar como objetos no mundo psíquico se afetam mutuamente.

 

Jung alega que a energia é finalista e tem a ver com a transferência de movimento ou ímpeto adquirido entre objetos (psiquicos)  ao deslocarem-se de modo irreversível ao longo de um gradiente até atingirem um estado de equilíbrio.  Isto assemelha-se à descrição de uma cadeia física de eventos: quando um objeto colide com um outro, o primeiro tem sua velocidade diminuída e a do segundo é aumentada. A lei da conservação de energia é aplicada a essa seqüência, a qual diz que a energia não pode ser criada nem destruída, de modo que a quantidade de energia deixa o primeiro objeto deve igualar o montade de energia recebida pelo segundo. Isso pode ser medido com precisão. Assim, embora a energia seja abstrada e intangível, os seus efeitos são observáveis, como qualquer jogador de sinuca sabe. Jung aplicou esse modelo à psique, e esse ensaio é sobre medir energia psíquica e pensar sobre a vida psíquica em termos de transferências e movimentos de energia.

 

A empatia conduz a um ponto de vista mecanicista e a abstração a um modo de ver energético, escreve Jung, e passa a estabelecer o contraste entre a visão mecanicista e uma energética da realidade física e psíquica.  As perspectivas são incompatíveis e, no entanto, ambas são verdadeiras. A concepção causal-mecanicista vê a sequência dos fatos da seguinte maneira, a causa b, b causa c, e assim por diante; recaindo o seu foco sobre a causação. Esta bola bate numa segunda, a qual bate numa terceira.    Aplicando está perspectiva  à vida psicológica, um complexo é visto como causado por um trauma psíquico, produzindo uma série de efeitos que continuam a se manifestar por muitos anos sob a forma de sintomas.

 

A concepção enérgetico-finalista, pelo contrário, vê a referida série da seguinte maneira: a-b-c são instrumentos de transformações energéticas que fluem causalmente de a, o estado  improvável, para o estado provável, passando entropicamente por b-c. Aqui abstrai-se, por inteiro, de um efeito causal, considerando-se apenas as intensidades dos efeitos. Como as  intensidades são as mesmas, podemos substituir a-b-c por w-y-z. De um ponto de vista energético-finalista, a energia é transferida de um estado menos provável para um mais provável deslocando-se ao longo de um gradiente de intensidade até terminar em equilíbrio.  Aplicando esta perspectiva à vida psicológica – e aqui chega-se ao entendimento dos motivos que levaram Jung a chamar a este ponto de vista abstrato e não-empáico – onde quer que cheguemos na vida, psicológica ou emocionalmente falando, é onde a intensidade dos gradientes os levou a fim de alcançar um estado de eqilíbrio. O equilíbrio é a meta e, neste sentido, é a causa , uma causa final, que atrai para si uma cadeia de eventos. E uma historia de “isso mesmo”. A causa parece-se com destino pessoal.

 

Um terapeuta que adotasse o ponto de vista energético-finalistico poderia justificadamente ser visto como impessoal e não-empático. Pouco atenção seria prestada a fatores causativos, como traumas de infância ou relações conflituosas e abusivas no passado. O foco estaria em rastrear o fluxo de energia do ego para o inconsciente (regressão) para nova adaptação (progressão) e analisar completamente atitudes e estruturas cognitivas que poderiam impedir ou bloquear o fluxo de libido, impedindo-o de encontrar seu gradiente ou percurso natural. É uma abordagem muito mais cognitiva.

O analista empático, por outro lado, procuraria descobrir as dificuldades presentes e mostraria compreender o modo como o passado criara problemas no presente.

 

Jung, em geral, achou que a abordagem de Freud era da variedade empática, causal-mecanicista, enquanto que a sua própria abordagem era do tipo impessoal, energética-finalista. O analista que disseca a psique com o intuito de analisar o movimento da energia e  facilitar o seu fluxo para atingir o objetivo de estabildade e equilíbrio está usando o método impessoal. Os extrovertidos, no entendimento tipológico são usualmente mais atraídos para as teorias causais ao passo que os introvertidos favorecem uma abordagem finalistica que é mais abstrata. Muitos analistas contemporâneos tentam combiná-las.



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário