sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
ARQUETIPO SOMBRA
Quando o
inconsciente a princípio se manifesta de forma ou negativa ou positiva, depois
de algum tempo surge a necessidade de readaptar de uma melhor forma a atitude
consciente dos fatores inconscientes – aceitando o que parece ser uma “crítica”
do inconsciente.
Através dos
sonhos passamos a conhecer aspectos de nossa personalidade que, por várias
razões, havíamos preferido não olhar muito de perto. É o que Jung chamou
“realização da sombra” para esta parte inconsciente da personalidade porque,
realmente, ela quase sempre aparece nos sonhos sob uma forma personificada.
A sombra não
é o todo da personalidade inconsciente: representa qualidade e atributos
desconhecidos ou pouco conhecidos do ego – aspectos aqui pertencem sobretudo à
esfera pessoal e que poderiam também ser conscientes. Sob certos ângulos a
sombra pode igualmente, consistir de fatores coletivos que brotam de uma fonte
situada fora da vida pessoal do indivíduo.
Quando uma
pessoa tenta ver a sua sombra ela fica consciente (e muitas vezes envergonhada)
das tendências e impulsos que nega
existirem em si mesmo, mas que consegue perfeitamente ver nos outros
coisas como o egoísmo, a preguiça mental, a negligência, as fantasias irreais,
as intrigas e as tramas, a indiferença e a covardia, o amor excessivo ao
dinheiro e aos bens – em resumo, todos aqueles pequenos pecados que já se terá
confessado dizendo: “não tem importância; ninguém vai perceber e, de qualquer
modo, as outras pessoas também são assim.”
Se você se
enche de raiva quando um amigo lhe aponta uma falta pode estar certo que aí se
encontra uma parte da sua sombra, da qual você não tem consciência. É natural
que nos sintamos aborrecidos quando gente que “não é melhor” do que nós vem nos
criticar por faltas devidas à sombra. Mas que dizer quando é o próprio sonho o
juiz interior do próprio ser – que nos reprova?
É o momento
em que o ego fica encurralado e reduzido, em geral, a um silêncio embaraçador.
Começa depois, um lento e doloroso processo de auto-educação, tarefa que,
pode-se dizer, equivale psicologicamente aos trabalhos físicos de Hércules. A
primeira tarefa deste infortunado herói, lembremo-nos, foi limpar em um só dia
os estábulos de augias, onde centenas de cabeças de gado haviam deixado,
durante décadas, o seu esterco – uma tarefa tão imensa que deixaria o mortal
comum desencorajado só de pensar nela.
A sombra não
consiste apenas de omissões. Apresenta-se muitas vezes como um ato impulsivo ou
inadvertido. Antes de se ter tempo para pensar, explode a observação maldosa,
comete-se a má ação, a decisão errada é tomada, e confrontamo-nos com uma
situação que não tencionávamos criar conscientemente. Além disso, a sombra
expõe-se muito mais do que personalidade consciente, a contágios coletivos.
Particularmente, quando estamos em contato
com pessoas do mesmo sexo é que tropeçamos tanto na nossa sombra quanto
na delas. Apesar de percebermos a sombra do sexo oposto, ela nos incomoda menos
e desculpamo-la mais facilmente. Nos sonhos e nos mitos, portanto, a sombra
aparece como uma pessoa do mesmo sexo que o sonhador.
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