sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

FISICA MODERNA

Com os trabalhos de Michael Faraday e James Clerk Maxwell, no século XIX, sobre o eletromagnetismo, a até então sólida concepção científica mecanicista sofre um primeiro grande abalo: era possível que existisse uma forma de realidade independentemente da matéria redutível a componentes básicos – o campo eletromagnético. O conceito de campo é um conceito sutil. O campo não pode ser decomposto em unidades fundamentais. Mas foi só com a descoberta dos quanta de energia, por Max Planck, em 1900, que a visão do mundo, em Física, começou a transformar radicalmente. E Albert Einstein, em 1905, ao publicar sua Teoria Especial da Relatividade – mais tarde ampliada na Teoria Geral da Relatividade, promoveu uma ruptura conceitual revolucionária entre a nova realidade de um universo curvo e inserido num continuum espaço-temporal e os conceitos mais básicos da fisica newtoniana, como, por exemplo, o do espaço euclidiano rígido, independente de um tempo universalmente linear, e de uma matéria inerte constituída de minúsculas bolinhas indestrutíveis, os átomos. Hoje sabemos que a medida do tempo varia conforme a velocidade com que se deslocam diferentes observadores, em diferentes referenciais, que o espaço é curvado pela presença de matéria, que matéria e energia são equivalentes. Nasceu assim, junto com o século XX, a chamada Física Modena.

 

O trabalho de Einstein possibilitou uma nova mentalidade para o estudo dos fenômenos atômicos. Assim, os anos 20 estabeleceriam uma nova compreensão da estrutura da matéria. Com o desenvolvimento da Mecânica Quântica, através dos trabalhos de Niels Bohr, Werner Heisenberg, Wolfang Pauli, Erwin Schödinger e outros, descobrimos uma estranha propriedade quântica: os elementos atômicos, a luz e outras formas eletromagnéticas tem um comportamento dual – ora se comportam como se fossem constituídos por partículas, ou seja, por elementos de massa confinada a um volume bem definido num região específica do espaço, ora agem como se fossem ondas que se expandem em todas as direções. E, ainda mais estranho, a natureza do comportamento observado era estabelecida pela expectativa expressa no experimento a que estavam sujeitos: onde se esperava encontrar partículas, lá estavam elas, da mesma forma como ocorria onde se esperava encontrar a onda.  Era como se o esperado se refletisse na experiência. Como se poderia conciliar o fato de uma coisa podia ser duas ao mesmo tempo, e como manter a objetividade se o tipo de experimento, e conseqüentemente a expectativa do esperado, pareciam determinar um ou outro comportamento experimental? A solução foi dada por Niels Bohr ao elaborar o princípio da complementaridade. Ele estabelece que, embora mutuamente excludentes num dado instante, os dois comportamentos são igualmente necessários para a compreensão e a descrição dos fenômenos atômicos. O paradoxo é  necessário.  Ele aceita a discrepância lógica entre os dois aspectos extremos, mas igualmente complementares para uma descrição exaustiva de um fenômeno. No domínio do quantum não se pode ter uma objetividade completa. Ruiu, assim, mais um pilar newtoniano-cartesiano, o mais básico, talvez: Não se pode mais crer num universo determinístico, mecânico, no sentido clássico do termo.  A nível subatômico não podemos afirmar que exista matéria em lugares definidos do espaço, mas que existem “tendências a existir”, e os eventos têm “tendências a ocorrer”. É este o Princípio da Incerteza de Heisenberg. Tais tendências possuem propriedades estatísticas cuja fórmula matemática é similar à fórmula de ondas. É assim que as partículas são, ao mesmo tempo, ondas. A física deixa de ser determinística para se tornar probalistica, e o mundo de sólidos objetos materiais, que se pensava bem definido, se esfumaça num complexo modelo de ondas de probabilidade. Cai o determinismo em Física. As “partículas” não têm mais significado como objetos isolados no espaço; elas só fazem sentido se forem consideradas como interconexões dinâmicas de uma rede sutil de energia entre um experimento e outro. (Capra, 1982, 1986; Grof, 1988; Heisenberg, 1981). Ficou demonstrado que a certeza num universo determinístico era fruto do desejo humano de controle e previsibilidade sobre a natureza, e não uma característica intrínseca da mesma. A concepção newtoniana era apenas uma formulação lógica sobre a natureza, refletindo uma idéia pessoal do mundo

 

“O mecanismo, com todas as implicações, retirou-se do esquema da ciência. O Universo mecânico, no qual os objetos se empurram, como jogadores numa partida de futebol, revelou-se tão ilusório quanto o antigo universo animista, no qual deuses e deusas empurravam os objetos à sua volta para satisfazer seus caprichos e extravagâncias”

                                                                       Sir James Jeans

 

A mais revolucionária descoberta, porém, foi a demonstração experimental do pilar central da Teoria da Relatividade: as partículas materiais podem ser criadas a partir da pura energia e voltar a ser pura energia. A equivalência entre matéria e energia é expressa pela famosa equação E=mc2. As Teorias de campo transcederam definitivamente a distinção clássica entre as partículas e o vácuo. Segundo Einstein, as partículas representam condensações de um campo contínuo presente em todo o espaço. Por isso o universo pode ser encarado como uma teia infinita de eventos correlacionados, e todas as teorias dos fenômenos naturais passam a ser encaradas  como meras criações da mente humana, esquemas conceituais que representam aproximações da realidade, pois, segundo a interpretação de Compenhagem, formulada por Bohr e Heisenberg,  não há realidade até o momento em que ela é percebida pelo observador. Dependendo do ajuste experimental, vários aspectos complementares da realidade se tornaram visíveis. É o fato de se observar que gera os paradoxos! Por isso a realidade é fruto do trabalho mental e ela tenderá a ter os contornos de quem a observa e que escolhe o quê e o como observar.

 


Fritijof Capra assim se expressa em relação a esse fenômeno: “ A característica principal da teoria quântica é que o observador é imprescindível não só para que as propriedades de um fenômeno atômico sejam observadas, mas também para ocasionar essas propriedades. Minha decisão consciente acerca de como observar, digamos, um eletron, determinará, em certa medida, as propriedades do elétron. Se formulo uma pergunta sobre a partícula, ele me dá uma resposta sobre partícula; se faço uma pergunta sobre onda, ele me dá resposta sobre onda. O elétron não possui propriedades objetivas independentes da minha mente. Na física atômica não pode ser mais mantida a nítida divisão entre mente e matéria, entre o observador e o observado. Nunca podemos falar da natureza sem, ao mesmo tempo, falarmos de nós mesmos” (Capra, 1986). Eugene Wingner, prêmio Nobel de física, também concorda que “consciência, inevitável e inevitavelmente, entra na teoria”.  (Di Biase, 1994) “É a mente que vemos refletida na matéria. A ciência da Física é uma metáfora com a qual o cientista, como o poeta, cria e amplia significado e valor na busca por entendimento e propósito... O que torna a ciência útil para nós e que nos faz  apreciá-la – previsibilidade, objetividade, consistência, generalidade – não existe de fato em alguma realidade externa, independente da consciência. É parte de nossa experiência e interpretação do mundo. Vejo a obra monumental de Newton como uma monumental criação mental, que satisfaz a mente humana e ajuda a aplacar o medo de um universo caótico. Seu trabalho é tanto uma obra de arte como uma obra de ciência. Protestar que a concepção de Newton é validada por inúmeras observações do universo físico não é argumento, pois minha idéia é que a concepção ou teoria e as quantidades são criadas paralelamente para a corroboração mútua (não necessariamente sem conflito e não necessariamente consciente). Além disso, as próprias quantidades se baseiam em uma definição e procedimentos de medida, que são fundamentalmente subjetivos”.

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